Retorno à condição operária, de Stéphane Beaud e Michel Pialoux, é um clássico da sociologia do trabalho. A partir de uma profunda pesquisa sobre as transformações vividas pela classe operária a partir da década de 1980, os autores buscam compreende r o processo que resultou na perda de expressão política do operariado. Trata-se de um retrato não só das estratégias patronais para dissuadir a organização coletiva, mas também do impacto de novas técnicas gerenciais que alteraram de maneira significativa o sentido de identidades no mundo do trabalho. O objeto de estudo de Beaud e Pialoux são as fábricas da montadora Peugeot, da região fabril de Sochaux-Montbéliard, na França. É a partir de uma imersão nesse local de pesquisa que os autores costuram uma ampla etnografia, avaliando desde aspectos históricos, conjunturais e sindicais até o mapa cultural do movimento, ampliando o escopo da sociologia do trabalho mais tradicional. A perda do prestígio simbólico da classe, a compressão dos espaços de socialização, a divisão geográfica do trabalho e as diferenciações geracionais e de gênero no conjunto dos trabalhadores são alguns dos muitos aspectos que ajudam a compreender a situação do universo operário hoje. O trajeto percorrido pelos autores retoma as consequências sociais e industriais desse desmonte, contribuindo para desfazer o mito de que a classe perdeu peso e importância na organização social, sobretudo para as análises acadêmicas e projetos políticos.