Os fãs brasileiros de Elmore Leonard, mestre da ficção policial americana, já tinham sido pegos de surpresa com o lançamento da coleção de seus romances de faroeste, até então desconhecidos por aqui. Mas as surpresas ainda não pararam. A confirmação está em Quando as mulheres saem para dançar, uma coletânea de contos daquele que é considerado pelo New York Time Book Review ‘o maior escritor do nosso tempo, talvez de todos os tempos’. São nove histórias de diferentes tamanhos e temas nas quais Leonard desfila vários daqueles personagens decididos, divertidos e demasiado humanos com os quais conquistou admiradores no mundo inteiro. A disparidade entre os contos, que se passam até em épocas distintas, sendo dois ambientados no Velho Oeste, não comprometem a integridade durante a leitura da obra. Ao contrário, este mestre da narrativa policial utiliza como fio condutor a discutível e frágil fronteira da lei e as diferentes formas de violações. No livro, Elmore mostra tudo o que sabe contando suas tramas de esquemas criminosos, chantagens e assassinatos e também suas histórias de amor incomuns, que sempre se resolvem de forma repentina e plausível. E envereda ainda por terreno inesperado, como em Morando no Buena Vista, que trata do singelo, e nada sentimental, romance entre os idosos Vincent e Natalie. Para os fãs de longa data, é uma alegria encontrar velhos conhecidos, como o agente com mania de xerife Raylan Givens, de Pronto, que aparece como personagem principal do conto Fogo no buraco, e Karen Sisco. A bonita, competente e algo confusa delegada federal é personagem de série de TV, do livro Irresistível paixão, que virou filme com Jennifer Lopez e George Clooney e estrela o conto Karen namora. Realistas, engraçadas e infalivelmente humanas, essas histórias soam sinceras com a assinatura de Elmore Leonard, suas observações sociais e seu olho diabólico para os pontos fracos tanto dos mocinhos quanto dos bandidos. Elmore Leonard começou a escrever romances quando ainda era redator de publicidade, segundo ele para acabar com o seu próprio tédio e também o do leitor. Ele escrevia com papel e caneta, a mão dentro de uma gaveta, durante o expediente. A gaveta e o medo de ser pego não existem mais. No entanto, avesso ao computador, Leonard continua trabalhando com papel, caneta e talento, numa carreira longa e produtiva. Fiando-se em regras como "eu tento deixar fora de meus livros aquelas partes que os leitores pulam" e "Se um diálogo parece que foi escrito tem algo de errado com ele", Elmore Leonard completa 80 anos de vida e uma bem-sucedida carreira de ficcionista. Quem quiser saber como ele faz isso é só conferir em Quando as mulheres saem para dançar.