Nem sempre as aparências enganam: às vezes, apenas nos ajudam a esquecer profundas verdades que os meninos que fomos conhecem muito bem e jamais esquecem. O problema é acordar esse menino adormecido que habita em nós. Normalmente, isso só acontece em situações dramáticas e drásticas que nos deixam absolutamente sozinhos. É quando algum encantador menino nos pede para desenhar uma bobagem qualquer, como um carneiro.
Pois foi uma experiência assim, simbólica e chocante, que levou Exupéry a escrever O Pequeno Príncipe quando vivia exilado em Nova Iorque, em virtude da lamentável situação política de seu país, uma França ocupada e dominada pelo nazismo, enquanto o mundo se dilacerava numa guerra que desnudava as entranhas da Humanidade, deixando claro que o Homem era (e é) um animal tão ou mais violento que os demais.
Bem, esse menino consolou e explicou o mundo ao autor. Sobretudo o uso que o Homem faz de si e de seu habitat. Por isso, para nunca mais se esquecer de certas verdades fundamentais, o menino repetia as verdades que sua amiga raposa lhe dizia:
– Adeus – se despediu a raposa. – Agora, eis o meu segredo. É muito simples: a gente não enxerga bem a não ser com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
– O essencial é invisível aos olhos – repetiu o pequeno príncipe, para não se esquecer.
– É o tempo que você perdeu com a sua rosa que torna a sua rosa tão importante assim.
– É o tempo que eu perdi com a minha rosa... – balbuciou o pequeno príncipe, para não se esquecer.
– Os homens se esqueceram dessa verdade – disse a raposa. – Mas você não deve se esquecer dela. Você se torna responsável para sempre por aqueles que você domestica. Você é responsável por sua rosa.
– Eu sou responsável por minha rosa... – repetiu o pequeno príncipe, para nunca mais se esquecer disso.