O autor de Guerra e paz, Liev Tolstói, apresenta em Minha religião (selo A Girafa) sua frustração e perplexidade após ter descoberto o que considera o real significado da moral cristã. Denuncia a hipocrisia e as contradições de uma sociedade cujas ações são baseadas num conjunto de formalidades e cerimônias.Argumentando de um modo lúcido e coerente, Tolstói considera uma anomalia os ditos cristãos aprovarem com naturalidade a fome de morte, a guerra, a escravidão, a prisão, o exercício abusivo do poder, entre outros. Seguem o que o autor chama de doutrina do mundo, em oposição à doutrina deixada por Jesus que é a força motriz mais imperativa do universo.Apesar de ter sido escrita no século XIX, Minha religião permanece impressionantemente atual ao retratar em algumas de suas passagens uma sociedade hostil, corrupta, violenta e materialista, em que pessoas sacrificam suas famílias e qualidade de vida por objetivos fúteis, vivendo desnorteadas, sem referências para realizar seus atos. E o pior: não assumem responsabilidade por toda essa situação, jogando a culpa nos outros ou nas instituições.Em Tolstói, a doutrina de Jesus é luz na escuridão. Com seu talento de escritor, esmiúça com precisão, detalhamento e até poesia, os mandamentos de Cristo, destacando seu nexo e simplicidade: “não ficar com raiva; não cometer adultério; não fazer juramentos; não resistir ao mal; não fazer guerra”. E faz isso em nome da paz, da liberdade e da felicidade que estão mais próximas do que imaginamos e as quais destruímos com nossos atos vis.