Não se trata de mais uma obra sobre o apóstolo Paulo. Os autores têm plena consciência, como declaram no prefácio, da novidade de seu texto quanto à forma e ao conteúdo. Do ponto de vista da forma, por valorizarem sobremaneira os dados arqueológicos, do ambiente físico e da sociedade concreta em que Paulo viveu e desenvolveu sua ação evangelizadora. Do ponto de vista do conteúdo, porque sublinha o objetivo e o público-alvo imediatos da ação de Paulo. Seu objetivo teria sido o de opor à estrutura do Império Romano uma nova visão da sociedade e da história, herdada do judaísmo, baseada não mais no poder de uma elite de cidadãos, mas na justiça e na igualdade efetiva entre todos os humanos. Seu público imediato, os pagãos simpatizantes do judaísmo, cuja vida e a ação podiam transformar por dentro a sociedade imperial. Como é típico de todo trabalho arqueológico e uma das características de Crossan, um dos autores, o ponto de partida da interpretação são sempre mínimos detalhes, que vão adquirindo importância decisiva à medida que são postos em relação com outros aspectos ou textos. A obra parte da idéia da pax romana, atestada por inúmeros monumentos, que permite sublinhar um relacionamento incomum com a tradição judaica, o que cria uma situação original nas sinagogas, freqüentadas por pagãos simpatizantes do judaísmo, situados entre duas visões da paz universal.