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Fonte envenenadaNo capítulo de sua Estética dedicado à poesia lírica, Hegel apresenta em dado momento um amplo panorama histórico desse gênero literário. Como critério distintivo das várias modalidades líricas, elege a atitude da consciência poética em face do seu objeto. Ao superar as vicissitudes da existência individual e aprofundar-se na contemplação de um poder superior, a atitude de apóstrofe se singularizaria na forma lírica que conhecemos por "hino". Acolhendo tal concepção em sua perspectiva teórica, o estudo de Marcos R. Flamínio Peres submete três hinos de Gonçalves Dias a uma análise que busca grande parte do seu instrumental nas melhores tradições da estilística e da hermenêutica. Como notará o leitor, a atenção percuciente ao corpo sensível do canto hínico (os estratos da sonoridade, da métrica e do ritmo) procura desdobrar-se, em movimentos concêntricos, até a interpretação voltada à complexidade histórica, social e individual que se encarnou na imanência lingüística do canto hínico. Um procedimento, portanto, plenamente adequado à dignidade de composições que ensejaram a Antonio Candido a lembrança de poetas contemporâneos que "revelaram o mesmo discernimento austero e comovido em face da natureza: Hölderlin, Wordsworth, Leopardi".O primeiro dos hinos estudados intitula-se "O Mar" e nele o leitor encontrará expressiva ilustração do "sublime na natureza", objeto de fecundas reflexões estéticas de Kant e Schiller. Enquanto nas cinco primeiras estrofes o eu lírico tematiza o seu sentimento de insignificância e impotência diante de um fenômeno da natureza que o transcende infinitamente, nas duas últimas confere voz à sua superioridade espiritual sobre o "tu" da apóstrofe hínica, o mesmo mar que poderia aniquilar a sua existência física.O segundo capítulo do estudo concentra-se no poema "A tarde", novamente um fenômeno da natureza em que se vislumbram traços da concepção panteísta do poeta. Desta vez, porém, esses traços surgem mesclados com um sentimento de "devoção filial" que a consideração de dados biográficos permite ao intérprete apontar no tratamento lírico dispensado à "tarde". Marcos Flamínio abre ainda à sua leitura uma perspectiva inovadora ao iluminar o poema gonçalvino com imagens bíblicas do "Cântico dos cânticos" e, sobretudo, com um episódio do Don Juan, de Byron, em que as tensões se anulam sob a benção das horas vespertinas: Ave Maria! blessed be the hour!No último poema analisado, vemos a tematização de circunstâncias biográficas e históricas se sobreporem à celebração da natureza, gerando o tom melancólico já indiciado pelo título "Adeus". Nesse capítulo, o procedimento hermenêutico, partindo como sempre da dimensão fônica, rítmica e sintática, chega à ampla interpretação de uma existência inserida concretamente na particularidade da história brasileira. O leitor adentra então o terreno espinhoso das contradições sociais e, em lugar do sublime ou do panteísmo suscitados pela contemplação do mar e da tarde, depara-se com uma experiência histórica configurada como frustração e exílio. A análise de "Adeus" envereda ainda pelos pelos gêneros da "epístola", do "idílio" (que se manifesta porém ex negativo) e da "elegia", forma mais apropriada a uma trajetória poética que, das alturas do sublime, é constrangida à ingrata "prosa das relações sociais" – ou à "fonte envenenada", imagem que, na interpretação de Marcos Flamínio, alegoriza a mensagem final de uma voz lírica que também no aspecto da impossibilidade se avizinha de nomes como Hölderlin e Leopardi.Marcus Mazzari Fonte envenenadaNo capítulo de sua Estética dedicado à poesia lírica, Hegel apresenta em dado momento um amplo panorama histórico desse gênero literário. Como critério distintivo das várias modalidades líricas, elege a atitude da consciência poética em face do seu objeto. Ao superar as vicissitudes da existência individual e aprofundar-se na contemplação de um poder superior, a atitude de apóstrofe se singularizaria na forma lírica que conhecemos por "hino". Acolhendo tal concepção em sua perspectiva teórica, o estudo de Marcos R. Flamínio Peres submete três hinos de Gonçalves Dias a uma análise que busca grande parte do seu instrumental nas melhores tradições da estilística e da hermenêutica. Como notará o leitor, a atenção percuciente ao corpo sensível do canto hínico (os estratos da sonoridade, da métrica e do ritmo) procura desdobrar-se, em movimentos concêntricos, até a interpretação voltada à complexidade histórica, social e individual que se encarnou na imanência lingüística do canto hínico. Um procedimento, portanto, plenamente adequado à dignidade de composições que ensejaram a Antonio Candido a lembrança de poetas contemporâneos que "revelaram o mesmo discernimento austero e comovido em face da natureza: Hölderlin, Wordsworth, Leopardi".O primeiro dos hinos estudados intitula-se "O Mar" e nele o leitor encontrará expressiva ilustração do "sublime na natureza", objeto de fecundas reflexões estéticas de Kant e Schiller. Enquanto nas cinco primeiras estrofes o eu lírico tematiza o seu sentimento de insignificância e impotência diante de um fenômeno da natureza que o transcende infinitamente, nas duas últimas confere voz à sua superioridade espiritual sobre o "tu" da apóstrofe hínica, o mesmo mar que poderia aniquilar a sua existência física.O segundo capítulo do estudo concentra-se no poema "A tarde", novamente um fenômeno da natureza em que se vislumbram traços da concepção panteísta do poeta. Desta vez, porém, esses traços surgem mesclados com um sentimento de "devoção filial" que a consideração de dados biográficos permite ao intérprete apontar no tratamento lírico dispensado à "tarde". Marcos Flamínio abre ainda à sua leitura uma perspectiva inovadora ao iluminar o poema gonçalvino com imagens bíblicas do "Cântico dos cânticos" e, sobretudo, com um episódio do Don Juan, de Byron, em que as tensões se anulam sob a benção das horas vespertinas: Ave Maria! blessed be the hour!No último poema analisado, vemos a tematização de circunstâncias biográficas e históricas se sobreporem à celebração da natureza, gerando o tom melancólico já indiciado pelo título "Adeus". Nesse capítulo, o procedimento hermenêutico, partindo como sempre da dimensão fônica, rítmica e sintática, chega à ampla interpretação de uma existência inserida concretamente na particularidade da história brasileira. O leitor adentra então o terreno espinhoso das contradições sociais e, em lugar do sublime ou do panteísmo suscitados pela contemplação do mar e da tarde, depara-se com uma experiência histórica configurada como frustração e exílio. A análise de "Adeus" envereda ainda pelos pelos gêneros da "epístola", do "idílio" (que se manifesta porém ex negativo) e da "elegia", forma mais apropriada a uma trajetória poética que, das alturas do sublime, é constrangida à ingrata "prosa das relações sociais" – ou à "fonte envenenada", imagem que, na interpretação de Marcos Flamínio, alegoriza a mensagem final de uma voz lírica que também no aspecto da impossibilidade se avizinha de nomes como Hölderlin e Leopardi.Marcus Mazzari
  • Marcos Flaminio Peres Autor:
  • 8574920770 Isbn 10:
  • 978-8574920771 Isbn 13:
  • Capa dura Páginas de capa mole:
  • Editora Nova Alexandria Publisher:
  • 240 g Peso:
  • 240 g Peso:
  • 20,8 x 14 x 1,3 cm Dimensões e tamanhos:
  • Português Idioma A Fonte Envenenada:

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