Permeado por um misticismo agnóstico e anárquico, o penúltimo romance de Campos de Carvalho, A chuva imóvel (1963), é seu momento mais poético e filosófico. Trata-se da história de André Medeiros e sua irmão gêmea, Andréa, que nutrem um amor que beira o incesto. Após as mortes do irmão e do pai, André traça uma claustrofóbica descida até seu inferno interior, no qual acaba por travar uma batalha com o Diabo – ou, nas suas palavras, “ a Coisa”. O humor nonsense de A lua vem da Ásia (1956), sua primeira obra-prima, que se manteve de forma mais sombria no romance seguinte, Vaca de nariz sutil (1961), assume em A chuva imóvel uma forma ainda mais densa e lúgubre, porém sem nunca deixar de transparecer o estilo marcante do autor.